domingo, 24 de julho de 2011

O "Cara"do Tour 2011

23 dias, 21 etapas, frio, calor, chuva, belas paisagens, quedas, abandonos, infortúnios, superação e 3.450 km depois chega ao fim o maior (dias, renda, público, audiência...) evento esportivo do planeta, o "Tour de France" ou Volta Ciclística da França.
Chegar a Paris é heróico; escalar os Alpes numa bicicleta é supremo! Pedalar de 3 a 7 horas por dia, dormir em pequenos hóteis de beira de estrada que em nada lembram o glamour da meta de chegada são parte da rotina dos atletas nessa competição. 198 atletas largaram, 167 chegaram. 15 vencedores de etapas, 4 ostentaram a "Maillot Jeune", 4 vencedores de competência (Pontos em Sprint -"Verd", pontos em Montanha - "a Pois", regularidade até 23 anos - "Blanc" e regularidade geral - "Jeune").
Numa avaliação esportiva apenas, o "craque" do Tour é o Vencedor, sem dúvidas, o mais forte, o mais completo: Cadel Evans. Todavia, esporte também é torcida, paixão, emoção e sentimento; nessa perpectiva é preciso eleger o "Cara" do Tour 2011.
Confesso que comecei a competição sem um candidato à geral; ainda não me recuperei da aposentadoria do Armstrong. Meus atletas preferidos são especialistas em Clássicas (corrida de um dia), agressivos, rompantes e devastadores, longe do perfil calculista, estratégico, constante e econômico (tudo isso numa de um ponto de vista positivo) que compõem o perfil de um "Candidato à Geral". Torcia pela Garmin, Thor e Farrar, por Gilbert e Cancellara; queria ver etapas brigadas, fugas aguerridas, pelotão insandecido a preparar seus sprinters. E tudo isso veio de avalanche desde a primeira etapa, e nossa língua não exprime o "amazing" que aquilo representava, principalmente pela liderança do Thor Hushovd e suas duas vitórias de etapa fantásticas. "Thor de France" já era na etapa 16 o meu certo ganhador da eleição para "o cara"!
Tudo isso mudou na 19ª etapa. Naquele dia meu olhar apaixonado de torcedor viu "Le Chouchou" pular numa fuga junto a Contador, Andy Schleck e Evans no km 15 de uma etapa que se encerraria no Alpe d'Huez. Pela segunda vez pensei: Louco! (ele havia tentado uma fuga na etapa 10 com a "Camisa Amarela").
Thomas Voeckler havia feito uma temporada pré-Tour fantástica, Campeão Francês de 2010 e atual Líder do Ranking Europeu, correu poucas vezes com o Verde da Europcar, sempre visto comemorando as vitórias com as malhas de suas conquistas. O mesmo Voeckler fora o "fiador" da sobrevida da Equipe BBOX-Boygues, já que a Europcar exigiu como clausula de patrocínio a renovação com "Ti-Blanc", como também é conhecido.
O Voeckler sorridente, das etapas anteriores deu lugar a uma feição irritada quando perdeu o contato com os líderes no Galibier; gritou e jogou a caramanhola no chão! Finalmente parecia tomado pela "Febre da Camisa Amarela", uma enfermidade que lembra o efeito do "precioso" anel em Frodo e todos aqueles que intentavam tê-lo em mãos. Febre que deixava Armstrong hostil nas entrevistas, que fez Contador atacar Andy com problemas técnicos em 2010. Voeckler e a Camisa Amarela, tão unidos e tão distantes. 65 km para o fim de um sonho. Escalava à beira das cãibras, torcia o nariz, até pequeno para um francês; carregava o peso das etapas, da escalada, do esforço de 10 dias em manter a liderança sempre ameaçada, mais pela torcida contra que por sua capacidjovemade de defendê-la. Em um momento de generosidade ímpar libera Pierre Rolland para batalhar pela Liderança Joven do Tour. Ali Voeckler ganhou a Etapa para Rolland!
O então líder carrega um peso maior, uma equipe que precisa de resultados para garantir patrocínio e recuperar o status de Pro-Tour o qual nenhuma equipe francesa mais possui. Finalmente carrega a França e suas esperança de voltar a vencer um Tour que dura já décadas (desde que Bernard Hinault venceu em 1985).
Por mais força que fizesse a desvantagem não caía.
Em meio à euforia pela única vitória francesa no Tour 2010 cruza a meta um esbaforido Voeckler, derrotado na montanha, ovacionado pelo povo, pelos franceses, pelos noruegueses, holandeses e bascos e por todos amantes do esporte brigado.
Se eu ainda tivesse dúvidas, o depoimento de David Millar no Tweeter selou minhas análises. Vai em Inglês pois talvez a tradução não exprima o sentimento do autor:

"If you have tears, prepare to shed them now. In team car being driven to hotel. Chatting to VdV & spot cyclist on autoroute ahead, dressed in full Europcar kit. Looks oddly familiar. Chat stops, tell car to slow. As we pass have time to look into eyes of a tired and broken Voeckler. Tragic doesn't come close to describe.  
@millarmind
Voeckler nunca afirmou que ganharia o Tour; mas ele nunca perdeu a ESPERANÇA! A esperança que move, que transforma, que impulsiona, que supera, que transcende!
Não vou deixar de torcer para Thor, Gilbert nem Cancellara, mas quero ser, enquanto professor, treinador, atleta, pai, marido e filho, como o Tomas Voeckler do Tour de France 2011: "O CARA"!

Tour do Mediterrâneo 2011 - etapa 1

 

Paris-Nice 2011 - etapa 08
Cholet-Pays de Loire 2011
4 days of Dunkirk - etapa 4
Giro Del Trentino 2011


Tour de France 2011 - etapa 19

Tour de France 2011 - etapa 18




Allez!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

TDF 1ª etapa: a mítica "Passage du Gois"

Ligação entre a ilha de Noirmoutier para a cidade de Beauvoir-sur-Mer, na região de Vendeé, a "passage du Gois" é uma estrada transitável submersível quando a maré está para fora. O piso é inundado duas vezes por dia. A "Passage du Gois" não é a única via de submersíveis da França, mas é excepcional para o seu comprimento: 4,5 km. Seu piso mal seca e as algas e limo molhado são uma emoção à parte. Some-se a isso rajadas fortíssimas de vento atlântico. Lance Armstrong passou ileso em seu 1º TDF (1999) quando 80% do pelotão foi ao chão ou ficou retido. O Camisa Amarela abriu nessa ocasião 6min.