quarta-feira, 19 de novembro de 2014

APTR Pedra Azul 2014 - Um dia para ser lembrado!

15 de Novembro de 2014

Retornando às "Highlands" capixabas, "a prova do ano", fechando o Circuito APTR; cheguei com uma consternada vontade de completar a prova; em 2013 curti o  percurso, minha primeira corrida de 21km, terminei em 14º com uma agradável sensação de quero mais. Desenhei minha temporada com desfecho em Pedra Azul. Porém aquele ditado: na teoria a prática é outra, cabe bem para definir minha temporada de treinos e competições.

No segundo semestre enfrentei seguidas pequenas lesões nos pés, lesões adaptativas que não me impediam de treinar, mas não me possibilitavam acelerar. Isso somado à sofrida experiência em Ouro Preto ( http://duk7team.blogspot.com.br/2014/11/nem-todo-dia-e-um-bom-dia-aptr-ouro.html ) foi determinante para não treinar o quanto devia e para me resignar a  completar a prova sem o objetivo competitivo. Já estava muito satisfeito em trazer uma equipe com 9 corredores!

O clima da prova é sensacional! O reencontro com os amigos feitos durante o ano, os preparativos para a corrida, o encontro com os os organizadores, os staffs feito formigas operárias, em todo lugar sem parar de trabalhar, o Congresso Técnico, a incerteza do clima. Já na linha de largada, a névoa não se dissipava, mas algumas certezas se clareavam: o clima não vai esquentar (provavelmente pois aqui a cada meia hora de haver uma surpresa climática), a pista estará bem molhada, vai ser uma prova nivelada por cima, não vai haver tanto desgaste (o que é uma meia-verdade em se tratando de endurance). A única preocupação 1 minuto antes de largar: se possível passar na 1ª trilha o mais cedo possível. Pontualmente largamos!

Larguei da segunda fila, pra ver de perto o estouro da boiada. Um breve declive na grama molhada seguido de uma rampa, ainda desconfiado da minha condição, resolvi acelerar e colar na cabeça da corrida; minhas pernas responderam prontamente. Ganhamos a Rota do Lagarto numa galopada que nem os cavalos Fjörds se atreveriam, pace 4:30 e pensei... vai ferver! Viramos na primeira rua à direita que é a Rota do Morango, uma descida severa de bloquetes, segue o cortejo, vejo que estamos entre os 20 primeiros, olho para os lados vejo um Flashback de 2013, ladeado por Rafael Negão e Raphael; pertinho ainda o Hildemar e o Léo. Toca descida. Dá para ver os primeiros, vamos seguindo e ainda ultrapassando. Deixamos o pavimento e ganhamos a primeira subida: uma estrada de beira um cafezal. Piso firme testando as pernas e ganho o chão; realmente o chão está liso e aproveito para calibrar a força. Adoto ritmo confortável na subida, vamos para cima. A fresca da mata e a garoa não disfarçam a sensação de que estou em ritmo forte: da cintura para cima ferve o corpo! O primeiro cume é o "Mirante", entramos numa trilha íngreme no meio da mata em "single track" onde 4 atletas caminham na minha frente. O terreno escorregadio e o sentido de preservação me permitem caminhar morro acima, penso comigo: já subi aqui correndo! Não me abato, logo um motor ferve à frente, um a menos; avisto o fim da trilha, um instinto selvagem fala mais alto, dou 6 passos correndo fora da trilha e já passei mais 2, volto à trilha, acelero, Mirante: check! Antes da descida, uma chicana num mata-burro vertical e toca descida num eucaliptal. Aqueles que outrora bufavam na subida ganham um ânimo morro abaixo comparável àquela hombridade interiorana... nos veremos em breve, já avisto a "Antena" que é acessada por uma estrada em mais um eucaliptal, uma constante no percurso. Primeiro posto de abastecimento: um copo de coca-cola e 1 quadradinho de chocolate. faltam 10 min para meu primeiro lanche, que poderei adiar por mais 10 min. A matemática que eu me esquivava na idade escolar é útil amiga em todo o percurso, onde o abastecimento correto minimiza os efeitos da fadiga que certamente vai chegar. Subida do Eucaliptal, revejo alguns valentes das descidas pela última vez, toca subida, cumprimento o Fotógrafo Danylo Goto e acelero nos último 50m sinto-me bem: nessa próxima descida ninguém me pega! Galopo morro abaixo, procuro o monolito que dá nome à localidade, as nuvens insistem em cobrí-lo. Retorno à Rota do Morango, vejo ao Longe Raphael, mais perto Rafa seguido pela Diana Bellon que liderava os 25 feminino, logo atrás Hildemar. Vamos para uma parte decisiva da prova.

À meia distância, vê-se à esquerda uma cascata na pedra, um bosque de pinheiros e o prédio da Pousada Pedra Azul que encima uma grande pedra. Olhando mais atentamente um vulto rasga a pedra longitudinalmente, é uma escadaria que se extende por mais de 100 degraus. O complexo bosque-escadaria rompe um desnível de mais de 30m. O bosque, com o chão forrado das cerdas que servem de folhas para as coníferas que ali residem exige pela inclinação somada ao chão fofo. Uma agradável sensação de peso nas pernas  que não pode ser tão aproveitada pela concentração em não deixar o coração cair da ponta da língua. Esse é o cenário fisiológico quando se levanta a cabeça e se depara com as escadas extensas. Sigo correndo. Olho para trás e os demais parecem parar; ultrapasso dois na escada, não os tornarei a ver até o fim da corrida. Mas não é tudo. Um breve alívio no interior da pousada, um gole d'àgua, e em seguida uma imensa laje de pedra que escorre a chuva da madrugada e manhã. A organização caprichosamente dispôs pedaços de carpete que perfaziam uma trilha, mas o vento impiedoso carregava os carpetes molhados. Tomei o canto da via, entre a turfa de folhas e os musgos e avancei. À frente frente um grupo que já a cada momento ficava na alça da mira para o trecho da trilha. A atenção ao lado direito da mata onde adentraria numa belíssima trilha na propriedade da Pousada, vejo duas fitas amarelas chamando em um portal dimensional para meu ambiente preferido: a mata! Ouço vozes à esquerda, e num lapso oniciente de que havia ali um atleta meu, alerto que estão perdidos com um grito e conclamo a retornar ao caminho. Numa corrida de Trail não há resolução rápida do caminho; o cansaço é traiçoeiro, a companhia é traiçoeira; o "esperto" às vezes acha no primeiro buraco na vegetação um atalho, ,o "inseguro" olha para o chão em busca de segurança, não é uma questão de pernas, de condicionamento, precisa acontecer uma simbiose que muitas vezes foi rompida pelo carro, pelo ar-condicionado, pelo condomínio; o instinto natural ofuscado afasta o caminheiro do caminho. o grupo me alcança, encerramos a trilha dos musgos, líquenes, pedras, grutas e raízes, nos despedimos dos atletas dos 12km que convergem à direita onde viramos à esquerda ganhando novamente a Rota do Lagarto. Já contemplo sofrimento e alguns que seguem enfrentando bravamente a subida do Fjördland. Descemos em direção Sul, passando pela Pousada Tre-Fiori que encara a Pedra do Lagarto encoberta pelas insistentes nuvens frias. Valentes despencam via abaixo, nos veremos já!

Deixamos a Rota para mais um trecho de subida que tem seu início sinalizado pelo incansável Manuel Lago, Diretor Técnico da prova; já é a terceira vez que nos cruzamos, acho que quanto mais cansado, mais sorridente ele fica! A partir daí é um festival dos horrores, olho para frente, cãibras e motores fervendo, atrás idem. vou seguindo. Penso que o Pasto do km18 irá me cobrar o preço e sigo em frente enquanto estou forte. Descemos um eucaliptal, subimos uma plantação de inhame, um topo de Pinus derrubados e uma longa subida num pasto, penso que logo retornaremos a um longo trecho de mata e trilhas e me animo numa descida. Me ajunto a Diana, um grupeto à frente, outro atrás.  Aos da frente desejo encontrar no km 19, acho que vou ultrapassá-los ali ou ao menos encostar para decidir posições nos últimos 2km. Trilha adentro, uma voz interior alerta: "não perca as fitas amarelas". Lembro que no ano anterior havia um bosque sem trilha, apenas as fitas ao longe. Ouço vozes fora da trilha, imagino que haverá uma forte conversão à esquerda pois são os que perseguíamos; eu estava enganado e eles também. Ao chegar numa transposição do curso de água, pergunto sobre os da frente, não haviam passado. Alerto os staffs que faltam alguns e continuamos até o último posto de abastecimento. coca-cola, chocolate e perna na estrada. Até aqui foi curtição. me explico: um staff dá a panorâmica da colocação, 15 min atrás do líder, 6 min atrás de um grupo estamos aproximadamente em 7º. Isso é o suficiente para transformar uma bela manhã numa planilha de cálculos. Pé na estrada! 6 minutos é praticamente 1 km, que não conseguimos avistar. Seguimos correndo e eu monitoro a retaguarda e nada de perseguidores. Diana está com o 1º  geral garantido e eu tenho um pódio na categoria de idade. Daqui pra frente todo mundo satisfeito, uma questão de administração. Deixamos a Rota do Lagarto e entramos num parto encharcado, ao transpor o charco um aviso das cãibras: estamos querendo te pegar. Caminho. Olho pra trás, ninguém. seguimos subindo e caminhando forte. Andar na frente carrega o bônus de definir o seu ritmo e o dos que vem atrás.  Arrumo um galho de eucalipto, que será meu bastão de caminhada. Após mais de 1km olho para trás e vejo alguém deixando o asfalto. se quiser nos pegar vai morrer. seguimos caminhando e finda a subida chamo a campeã para retomar a corrida. Antes de retornar ao pavimento, um obstáculo crítico: uma porteira fechada à qual é preciso se esgueirar entre as traves e em 2013 me consumiu em cãibras. Passei batido. Sobe um pouquinho, desce um pouquinho, falta 1 km. Uma súbita alegria, os flashbacks de 2013, a lembrança mais uma vez dos momentos de treinos, das renúncias, da família e dos amigos privados do convívio nas manhãs de sábado e domingo. Valeu a pena! Aceleramos para a chegada. É mais que justo que a campeã cruze o portal triunfante; vinhamos de mãos dadas em comemoração antecipada, lhe dou um tapinha nas costas, aquele "vai que é tua!"

Sinto-me em êxtase, é ímpar superar-se! Adevan Pereira nos aguarda e nos dá um abraço! Um gesto fraterno no calor da competição! Amigos, alunos a me saudar. Sou informado da 6ª colocação, a um degrau apenas do pódio geral. Demais penso eu! Congratulo-me com Rafael, o 4º! Em 2013 percorremos juntos, e fomos 12º e 14º. Viemos, vimos e vencemos!

Mais vivências, mais lições; aprendidas e à ensinar. O que dizer agora a quem critica a rigidez dos treinos, a retidão dos propósitos, a abstinência àquela noção de prazer à custa do exagero, deixou de comer, deixou de beber, deixou de sair? Nada a dizer. Tenho a dizer àqueles que vão me procurar procurando sair da estagnação, do sobrepeso, da hipertensão, do diabetes. O que dizer a quem não vê meus 27 anos de treinamento, não sente as minhas dores, não se permite trocar sessões de treino por sessões de fisioterapia e descanso, e quer em 6 meses de treinos comer o mundo correndo a qualquer custo, para estar entre as atenções? Nada a dizer. O direi àqueles que se atreverem a alcançar o auto-conhecimento e o auto-controle por meio do corpo e do movimento, sonhando em feitos transcritos por resultados ou apenas pela superação de suas dificuldades. O que posso dizer agora? "Eu percorro o caminho, me alimento do que o caminho me proporciona, repouso quando o caminho permite; vislumbro o alto, sonho com as coisas do alto. Eu deixo atrás de mim um rastro, uma história que se não servir de exemplo, poderá servir como ponto a superar, rumo ao alto! Up!

Se quiser conferir o relato de 2013: http://duk7team.blogspot.com.br/2013/11/k21-pedra-azul-uma-experiencia-unica.html

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nem todo dia é um bom dia - APTR Ouro Preto

Este texto estava guardado na cabeça pela escassez do tempo...

Ouro Preto, 01 de Novembro de 2014

Hoje aconteceu a APTR Ouro Preto, Evento de Trail Run do Professor Adevan Pereira  (AP); Levamos nossa maior equipe do ano, cinco componentes: Camilla (7k), Gunter (12k), Raphael (12k), Joyce (25k) e Emílio (25k).

O ambiente: Ouro Preto é uma bela cidade histórica, e se sente que por um lapso de tempo estaríamos vivendo páginas dos livros de História. É cercada por cadeias de morros, e a mais imponente faz parte do Parque Estadual do Itacolomi. A Corrida tem o Parque como ponto de partida e de chegada.

Hora da largada, 10h, temperatura ainda baixa, e uma escolha errada: largar com o conforto de uma blusa segunda pele. Decidi largar num ritmo conservador, sem forçar, aguardando o completo aquecimento e o "steady state" para então estabelecer o ritmo da prova. No primeiro quilômetro, tento não forçar, sendo ultrapassado a todo momento, mesmo assim o pace de 4:45 numa subida gradual diz que a prova vai ferver, no segundo quilômetro estou entre os 30 primeiros. O visual se desenha maravilhoso, deixamos o Parque e uma bela formação sedimentar se põe ao lado do caminho. O conforto não chega, pelo contrário, pareço cozinhar dentro da blusa pelo esforço e pelo mormaço. Defino nesse momento que no primeiro posto de abastecimento retirarei a blusa de baixo. Uma curva para a esquerda e damos de cara com o vento, que refresca e alivia o calor; o terreno não impõe dificuldades, mas o conforto não vem, sigo sendo ultrapassado. Chegamos à uma vila pitoresca de vias calçadas de pedras: Lavras Novas. Alguns descuidados se intertem com a cidade e perdem a marcação vistosa de fitas zebradas em amarelo e preto. Desde a entrada da vila venho acompanhado de um belorizontino, que havia estudado em Ouro Preto e viemos trocando idéia até o posto de abastecimento. Tempo nublado, vento frio. Tomo 2 copos de coca-cola, decido manter a blusa: persisto no erro; retomo a corrida.
Após 1 km o sol abre, o vento pára. Estou fritando! Ligo o "modo mental" e sigo em frente. Já são 12km, mas sei que ainda tem toda a subida da volta. A busca pelo conforto fica de lado diante da constatação que estou fisiologicamente em sofrimento, as pernas pesadas, a frequência cardíaca mais alta que o normal. O "modo mental" me traz lembranças de outras corridas, dias bons... estamos numa descida, quatro corredores 20 metros à frente. Sinto a força nas pernas, abro as passadas e despenco caminho abaixo; em um minuto já passei e abri distância dos companheiros. km 14! Foi um brilhante quilômetro! Mas na próxima subida reduzo o passo e as pernas queimam, a FC sobe e estou novamente a sofrer; nos aproximamos da Represa do Cardoso, uma rampa de pedra e inevitavelmente o contexto me leva a uma condição nova nesses 2 anos de Trailrun: caminhar. Volto ao trote, mas na próxima subida a coragem deixa as pernas e volto a caminhar. O sofrimento dá lugar a uma falta acentuada na disposição para correr. Paro para respirar, estou ofegante, parece que corri 100m em 13s como nos tempos da faculdade. Finalmente tiro a blusa de baixo, como e bebo; o corpo quer parar, mas a cabeça não vê opção que não seja completar. Volto a correr, a parada não ajudou o ânimo, mas , me dou conta que a vontade mental, que muitos podem chamam determinação, não me abandonou,  pelo contrário, me empurra caminho adiante. Estou na Estrada Real, penso na dimensão histórica que estou vivendo, e vou seguindo, sofrendo, me distraindo, me motivando...
No km 18, posto de abastecimento, parada mais para descansar que para abastecer. chupo uma laranja, algum chocolate, bebo água, coca-cola, me refresco com a água gelada. Volto ao caminho,
o caminho é quem faz a caminhada, a luta, e não quem luta. Corro, caminho, agora com muita dificuldade; para o ritmo não importa andar ou o trote cambaleante que imprimo, mas correr faz bem ao meu ego... mais um posto de hidratação, tento comer uma banana, que não desce. Num trecho plano tenho uma dificuldade imensa para me manter corrrendo. Já escuto a sonorização do evento, mas não me engano, faltam mais de 4km e chega a hora das trilhas. Entro na primeira, meu habitat preferido, o sangue esquenta, a trilha pede para correr; me aventuro e acelero, mas um trupicão me traz um novo desconforto, uma forte cãibra na panturrilha esquerda. Demora a passar, começo a caminhar, o som desaparece, estou me afastando do ponto final...  passo pela capela e a próxima trilha leva para o lado oposto da meta; ando mais que corro. Um tronco à meia altura... transponho por baixo, quase sentado e agora as cãibras nos adutores se somam à da panturrilha. Já passam de 3 horas de prova, vou seguindo adiante; saio da trilha e encontro um Staff que me indica finalmente a direção da chegada. Volto a correr, estou na estrada; passo pelo Adevan Pereira que indica ainda uma última trilha, mesmo que a chegada já esteja à vista do lado esquerdo. A trilha do Forno começa com uma escada. 4 degraus que determinam que minhas duas pernas seriam dominadas pelas cãibras a partir dali. Já estou no automático, já não olho em volta, me concentro em sair daquela mata, avistar a chegada, e tropegamente trotar até o objetivo, sem sprint, sem preocupação com o cronômetro, só quero chegar. meus amigos e alunos me aguardam, é um reencontro confortante! Não teve emoção qualquer. Nos próximos minutos fico meio aéreo, não é uma sensação agradável. Tomar um banho limpou o corpo mas não trouxe renovo no ânimo. Depois de momentos de completo desligamento sento-me debaixo de uma Aroeira e então sim, me emociono com os corredores que ainda lutam para fechar suas provas, contemplo seu sofrimento e me lembro do meu. Um estranho sentimento de vitória lá no fundo, vindo de uma capacidade de superação, que eu imaginava ter, mas que não o havia experimentado. Uma nova conquista, uma nova descoberta; um dia ruim, não para ser esquecido, mas um dia ruim!
Apesar do treino, do comprometimento, das escolhas e das renúncias, o atleta não é uma máquina e nossas reações não são totalmente previsíveis. O treino, exigente, vai fazer brotar as qualidades que nos farão superar o inesperado sempre que se interpor aos nossos caminhos. Up Omega!

sábado, 23 de agosto de 2014

APTR Ilha Grande



APTR Ilha Grande

Pensa num lugar longe... lindo, selvagem, bucólico, multiracial e multinacional. Ilha Grande!
Hoje participei da APTR Ilha Grande, 21km nesse paraíso de praias, subidas, mata exuberante, trilhas cabulosas. Podemos considerar a Alcatraz nacional, porque abrigou uma unidade prisional famosa, não tão inespugnável quanto à americana.
Mas vamos à prova; largada forte, 2km em 10min numa corrida de montanha. No terceiro kilômetro começamos a subir e já estavamos um primeiro pelotão destacado para uns 4km de subida dura. Destaque para o nível dos competidores, pois nesse grupo não vi ninguém andando nesse trecho. Éramos 10 da turma dos 12km mais uns 20 dos 21. Uma breve parada para uma coca-cola no km 5.5, uma selfie num belo spot e toca subida. 
Nesse trecho compartilhávamos a estrada com diversos turistas, na sua maioria estrangeiros e entre expressões de ânimo como “allez”, “go, go” e “very well”, toca subida. Sob revoadas de maracanã (eu acho) descemos até o Presídio, uma passada numa bela e deserta praia (a areia desanimou alguns desavisados nos seus cerca de 500m de extensão), mais uma parada para hidratar e refrescar-se com água gelada, toca subida. E aí, sob um so de mais de meio dia o povo começou a sofrer. Uma turma que havia me passado no longo trecho de descida e já no trecho da praia estava com uma vantagem de 300m foi ficando mais perto. Tentei fazer todo o percurso numa tocada confortável e constante, e naquele “passinho” fui já me recolocando e enquanto finalmente esse grupo começava suas caminhadas e trekings fortes, fui colocando vantagem. Toca subida. 
Nesse trecho numa amistosa briga, mais com o caminho que pessoal, alternava posições com um guerreiro que posteriormente descobriria ser o terceiro da nossa categoria. Comecei a descida na frente e 1km após preferi não parar no posto de abastecimento onde o percurso entrava numa trilha. Um tropeção nos primeiros 10m ligou um alerta de cãibra; parei, alonguei, aumentei a cautela e abri passagem para três companheiro, entre eles meu “adversário”. Após a trilha selvagem, entramos numa trilha quase urbana, num numa viela cimentada entre casas muito simples. A criançada local fazia o seu “cheering” entre gritos de apoio e mãozinhas para bater.
Nesse momento dá um orgulho pessoal por contribuir com um exemplo positivo à esses pequenos, que fique para eles o estímulo de buscar no caminho do esforço a consecução das suas conquistas; toca descida. Ao fim da viela, demos numa extremidade da praia do Abraão e só restava chegar à outra ponta da praia, entre cadeiras de praia, rodas de altinha, mesas dos bares, uma foz de riacho, a vila, o cais, a turistada ora olhando com espanto, ora manifestando apoio com sorrisos e acenos. 
Chegada forte, pernas boas, sem dores nem cãibras numa prova difícil mas não tão dura quanto os treinos e uma certeza: temos no Espírito Santo cenários tão ou mais duros dos que encontramos nas melhores provas do Brasil!
Vamos conquistar essas montanhas, no ES tem montanha sim senhor!